domingo, 30 de dezembro de 2012

Obama avança em plano para controlar uso de armas



30 de dezembro de 2012 | 8h 09
 
AE - Agência Estado

Ao anunciar no dia 19 uma força-tarefa para propor leis e medidas que evitem massacres nos EUA, o presidente americano, Barack Obama, foi colocado contra a parede. Um repórter o lembrou que ele não fez nada para renovar a proibição de venda de armas de assalto e disse que Newtown, a matança mais recente, não foi a única nos últimos quatro anos. "Onde o senhor estava?", questionou o jornalista.


Obama respondeu, visivelmente irritado, que não tinha passado quatro anos "de férias". Ele explicou ter enfrentado a pior recessão desde os anos 30, o risco de colapso da indústria automotiva e duas guerras. Todos esses desafios, de fato, roubaram-lhe a atenção nos dois primeiros anos de governo. Nos dois últimos, quando a campanha pela reeleição tomou conta da agenda, dois massacres chocaram o país.

A reação mais vigorosa de Obama surgiu apenas depois de Newtown, onde 20 crianças de 6 e 7 anos e 6 adultos foram assassinados em uma escola. Adam Lanza, de 20 anos, matara sua mãe minutos antes e se suicidou ao perceber que a polícia se aproximava.

Obama ficou consternado com o massacre, enxugando lágrimas enquanto discursava aos jornalistas horas depois da tragédia. Ao contrário de sua posição em outros massacres ao longo de seu governo, ele foi adiante e prometeu "medidas significativas", criou a força-tarefa e deu seu apoio à proibição de venda de armas de assalto. O motivo da mudança: ele já estava reeleito.

Obama não reagiu dessa mesma maneira nem quando sua aliada, a deputada democrata Gabrielle Giffords, do Arizona, foi gravemente ferida em um ataque armado em Tucson, em janeiro de 2011. Na ocasião, ele insistiu na promessa de ajudar as investigações e não mencionou medidas para combater esse tipo de violência frequente no país.

Em momento delicado de sua campanha pela reeleição, em julho, Obama declarou ter ficado "desolado" com a notícia do massacre no cinema de Aurora. Novamente, ateve-se à punição dos culpados. O discurso não foi diferente, 16 dias depois, quando seis pessoas foram assassinadas em um templo sikh em Oak Creek, Wisconsin.

Durante a campanha presidencial, a questão do controle de armas foi propositadamente colocada de lado, mesmo com os massacres de Aurora e de Oak Creek.

''Longa tradição''

Apenas no debate realizado na Hofstra University, em outubro, o silêncio foi quebrado pela eleitora Nina González. "O que o seu governo fez ou planeja fazer para limitar o acesso a armas de assalto?", questionou ela a Obama.

Em sua resposta, ele deixou claro o limite de qualquer ação. "Você sabe, nós somos uma nação que acredita na Segunda Emenda. E eu acredito na Segunda Emenda. Como você sabe, nós temos uma longa tradição de caça", afirmou.

A Segunda Emenda foi adotada em 1791 para dar o direito ao porte de armas aos civis, que organizavam milícias para a proteção das comunidades. Em 2008 e em 2010, a Corte Suprema decidiu que ela garantia também o direito de uso de armas para a autodefesa.

Obama era professor de direito constitucional na Universidade de Chicago antes de ingressar na carreira política. Sabe que mudar um artigo da Constituição exige um trabalho hercúleo: dois terços de aprovação nas duas Casas do Congresso e dois terços dos parlamentos estaduais.

O presidente também conhece os dados das mais recentes pesquisas, nas quais os americanos reconheceram haver algo errado na sociedade e apoiaram as restrições ao acesso às armas, mas não aceitaram mudanças na Constituição. Ele também está ciente do poder do lobby político da Associação Nacional do Rifle nos dois partidos e de seu respaldo entre os eleitores, especialmente os de homens brancos do Meio-oeste, entusiastas da caça e da autodefesa.

Ainda assim, o esforço para a mudança na Constituição poderia estar entre as prioridades de um presidente em seu último mandato, como a prometida reforma da legislação sobre imigração. Obama já não precisa se preocupar com custos eleitorais nos próximos quatro anos. Sua história de defensor do controle de armas, porém, mudou desde que atuava como ativista político em Chicago.

Em 2008, já candidato à Casa Branca, Obama avisou: "Eu não vou tomar as suas armas". Como líder dos EUA, ele não foi apenas omisso diante das cinco tragédias ocorridas até o momento. Enquanto o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, pressionava o governo federal a adotar medidas de controle, Obama aprovava o uso de armas em parques nacionais.

A amplitude da lei de restrição da venda de armas de assalto e de munição de alto poder de destruição, se vier a ser apresentada e apoiada pelo governo, deverá ser avaliada com lupa. A lei que bania a venda desse armamento, vigente entre 1994 e 2004, não foi retroativa. Quem possuía esses modelos pôde mantê-los e os que foram fabricados antes da sanção da lei puderam ser revendidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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    Tópicos: EUA, Obama, Armas, Posse

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    segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

    Lúcia Guimarães

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    Não adianta chorar

    17 de dezembro de 2012 | 2h 09
     
    Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
    NOVA YORK - O governo americano não permitiria que nenhuma das 20 crianças executadas por Adam Lanza na sexta-feira, em Connecticut, viajasse num automóvel sem um assento infantil especial.

    Se alguma daquelas crianças martirizadas na sala de aula morasse no meu apartamento, eu teria que comunicar ao governo para que o edifício instalasse grades de proteção na janela.
    Duas semanas antes de ter seus corpos perfurados pelas balas de uma arma automática que os soldados americanos usam no Afeganistão, as mesmas vítimas tinham sido resguardadas pelo novo Ato de Proteção à Criança, uma lei que dá 20 anos de cadeia para quem for encontrado com material pornográfico envolvendo menores de 12 anos.
    Um dos senadores que patrocinou a passagem da lei é o texano John Cornyn. O mesmo republicano que votou a favor da permissão para passageiros levarem armas de fogo na bagagem a bordo de trens e recebeu a nota máxima, "A", da NRA, a National Rifle Association.
    Em Washington, 244 dos 435 deputados que ocupam o Congresso aceitaram doações da NRA este ano. Entre os que não receberam dinheiro diretamente do poderoso lobby das armas de fogo, quantos fariam o que fez Victoria Soto, a professora de 27 anos que escondeu seus alunos num closet? As últimas palavras de Victoria foram dirigidas a Adam Lanza. Ela mentiu sobre a localização das crianças antes de ser executada.
    Este mês, 4 Estados americanos contam com a ajuda da NRA para se juntar aos 17 Estados que passaram leis autorizando empregados a levar armas de fogo para o trabalho, desde que elas fiquem guardadas no carro.
    Em seguida ao segundo pior massacre por armas de fogo nos Estados Unidos, a mídia americana vasculhou a história da família Lanza para sinais de explicação da tragédia. O divórcio dos pais de Adam foi traumático, disseram. O atirador de 20 anos era extremamente inteligente mas antissocial. Até a irmã do pai de Adam, falando aos repórteres, se confessou aliviada: "Meus filhos sabem distinguir certo de errado", disse ela, e pontificou sobre a necessidade de criar bem os filhos. Sua cunhada Nancy foi a primeira vítima de Adam, morta com um tiro no rosto. Quando sentava no bar de Newtown para ouvir jazz, Nancy Lanza se orgulhava em falar da coleção de armas que mantinha em casa. Seus amigos dizem que ela levava os filhos para praticar pontaria em clubes de tiro ao norte de Nova York.
    O governador de Connecticut disse que não adiantava procurar motivo para a tragédia porque não há uma explicação satisfatória. Como ele se engana. Em 1997 depois do assassinato em massa que fez 35 vítimas na Tasmânia, um governo conservador na Austrália passou uma lei de controle de porte de armas. Não houve outro massacre desde então. No mesmo ano, depois do massacre de 16 crianças na escola primária de Dunblane, na Escócia, o parlamento britânico tornou ilegal a propriedade privada de armas de fogo.
    2012 foi um dos anos mais letais na história dos massacres de massa americanos. Assim como aconteceu na tragédia no cinema de Aurora, em julho, quando James Holmes fuzilou 12 pessoas com armas adquiridas legalmente e munição comprada online, o ritual pós-massacre se repete: políticos falam em Deus, família e mandam hastear bandeiras a meio mastro. Vigílias à luz de velas se multiplicam e a indústria de entretenimento cancela eventos. Platitudes são regurgitadas em incontáveis entrevistas. Psicólogos e sociólogos são convocados para examinar o perfil do assassino de massa - quase sempre um solitário homem branco.
    Mas ninguém tem a coragem de Victoria Soto, a professora que morreu protegendo seus alunos. Os mesmos políticos que querem proteger as crianças do casamento gay se opõem à proibição da propriedade particular de armas automáticas. Na maioria dos Estados americanos, propor o controle da posse de armas de fogo é cometer suicídio eleitoral.
    Num mundo em que formador de opinião é quem tem milhões de seguidores no Twitter, não há debate responsável sobre o grave problema americano de saúde pública, sim, saúde pública, a epidemia de armas de fogo. Os Estados Unidos têm tantos habitantes quanto armas de fogo em circulação - mais de 300 milhões. As crianças americanas de 5 a 14 anos têm 13 vezes mais chances de ser assassinadas por armas do que as crianças de países industrializados.
    Nunca vimos Barack Obama chorar. O presidente apelidado de "no drama Obama" lutou contra as lágrimas quando leu uma mensagem curta depois do massacre de sexta-feira, em que lamentou a inocência perdida das crianças sobreviventes do massacre. Victoria Soto não chorou mas salvou crianças. Quantas crianças o presidente está disposto a salvar?